A arte de educar adolescentes no início do terceiro milênio.

Ao longo desses últimos 20 anos atendendo em consultório particular crianças e jovens com dificuldades escolares e suas famílias e como orientadora educacional nos Colégios Rio Branco, Objetivo e Visconde de Porto Seguro, observo que a principal queixa dos pais em relação aos filhos adolescentes tem origem no baixo rendimento escolar. É este o principal motivo que os leva os pais à escola e a buscar por atendimento especializado. Esta queixa é sempre recorrente e precisa de um olhar criterioso para vários aspectos da vida do aluno.

A escola é o micro cosmo da sociedade. O adolescente passa grande parte de sua vida no colégio. Portanto, a escola é a grande reveladora das dificuldades psicológicas dos alunos. É onde fica evidente o resultado de sua produtividade. Muitas vezes a escola torna-se o local de seu fracasso pessoal. No entanto, outras questões estão subjacentes à dificuldade escolar e que só aparecem após uma investigação mais aprofundada.

Uma das grandes preocupações dos pais é a dificuldade que sentem em acompanhar a vida escolar e afetiva dos seus filhos. Pais queixam-se por não saber como lidar com eles diante de tantas mudanças de ordem biopsicossociais pelas quais seus filhos passam e encontram-se perdidos frente à rapidez com que os eventos ocorrem.

O adolescente, em permanente conflito, quando exposto a ambientes e relações com regras e limites claros (como na família ou na escola), mostram sua insatisfação através de atitudes e comportamentos que transgridem à essas regras criando situações tensas para si e para quem convive com eles.O grupo de amigos exerce influência muito maior sobre ele do que sua família e o jovem entra em uma crise interna de valores diante de demandas tão contraditórias. Por um lado estão as demandas da família e da escola e por outro, atender aos desejos do grupo social ao qual pertence.

Como conseqüência destas desarticulações, o jovem responde com comportamentos e atitudes que são sintomas de uma dificuldade de ordem emocional que denotam uma gama de problemas como: ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, problemas de relacionamento, uso abusivo de álcool e outras drogas bem como outros comportamentos de risco, apenas para citar algumas das angústias que continuam a preocupar a maioria dos pais bem como educadores.

À escola cabe o conhecimento formal da leitura, escrita, cálculo matemático e raciocínio científico. No entanto, as escolas estão, cada vez mais, solicitando a presença dos pais na compreensão da dinâmica familiar e no que ela pode estar contribuindo para os processos do aluno na escola. Parcerias entre família e escola são fundamentais para se conhecer os valores de cada família, identificar os saberes que vem de casa e auxiliar melhor o aluno levando em conta sua estrutura familiar.

No entanto cabe a cada instância saber o seu papel e o seu limite. Quando os filhos são menores, comparecer às reuniões de pais e mestres, se interessar pelo aprendizado dos filhos, verificar cadernos e acompanhar suas produções são algumas das funções que aproxima os pais da vida escolar dos filhos. No entanto, quando eles crescem, acompanhá-los em sua vida acadêmica não é mais tão simples. Não podemos simplesmente pegar em sua mão e levar para onde acharmos importante para eles. Neste momento, é necessário que os adultos repensem suas estratégias de abordagem com este jovem.

É preciso aprender a dialogar com eles, saber ouvir o que é dito e muitas vezes estar atentos também ao que não é dito. Saber escutar pode ser mais importante do que o que temos a dizer. Se interessar por suas coisas, pelo que pensam e sentem, dar limites sem serem invasivos, respeitar sua individualidade e suas buscas. Paralelamente a isto, as aulas precisam ser mais estimulantes, precisam aguçar a sua curiosidade. Os professores precisam saber quem são seus alunos, o que eles pensam, o que os intriga, de que maneira podem ajudá-los a construir os passos necessários para se apropriarem do conhecimento.

O professor que consegue criar maior abertura com seus alunos e encantá-los com idéias, reflexões e pensamentos, desafiá-los, fazer seus olhos brilharem, e desejarem saber mais, conquista um espaço de relacionamento precioso com estes jovens. Cabe ao adulto pensar junto com eles, mostrar as possibilidades, mas também orientar, dar os limites quando necessário e mostrar as conseqüências das suas escolhas. Estabelecer um relacionamento franco e aberto que tem por base a confiança mútua é a base para a construção de relacionamentos saudáveis.

À medida que os adolescentes conseguem perceber que vivem numa sociedade com regras e que para a boa convivência precisam se adequar a elas, começam a perceber que o que importa é justamente a conquista dessa liberdade com responsabilidade e consciência de suas escolhas. O problema passa a ser de fato preocupante quando pais e educadores deixam de ser as referências para este jovem, ou seja, quando deixam de acreditar que podem fazer a diferença na vida deles. Mesmo sem seu aval, pais e educadores não podem deixar de exercer sua importante missão de formarem seres humanos. Nada substitui a relação olho no olho entre professor-aluno ou pai-filho, nem mesmo a tecnologia tão presente na vida das pessoas.

Trocas afetivas são importantes e fundamentais para que as relações humanas atinjam sua plenitude. É preciso encantar os jovens, estar à frente desta geração, saber o que os motiva, o que querem, quais suas angústias, intermediar a busca pelo conhecimento de forma dinâmica e exercer sim a sua autoridade com sabedoria para não viramos reféns desta geração que pede limites.

Esther Regina Neistein Psicóloga – CRP 30961 erneistein@yahoo.com.br  – 98361-7522