Criança também tem stress?

A resposta é sim e não! As crianças com certeza são submetidas a um grande número de forças externas deformantes, distintas das dos adultos, mas proporcionalmente equivalentes.

Sim, até porque o esforço adaptativo da criança é proporcionalmente maior, uma vez que o mundo é maior, os inimigos são maiores, muitas vezes resolvendo os conflitos com violência (empurrões e tapas…). As crianças têm menos controle das situações, das regras, das decisões, dos julgamentos e das punições a que são submetidas.

Sim, porque são exigidas em sua performance tanto ou mais que os adultos, uma vez que freqüentemente projetamos sobre elas as expectativas do que gostaríamos que elas fossem (apenas as melhores em todas as áreas de interesse delas e, de preferência, nossas), e muitas vezes, de maneira mais ou menos consciente, utilizamos mecanismos de chantagem emocional para conseguir sua dedicação (ah, a mamãe ficaria tão feliz se você comesse mais um pouco…).

Sim, porque quase sempre as reais necessidades do universo infantil não são compreendidas pelos pais e pelos adultos em geral, e também porque falta à criança maturidade para compreender o que se espera dela ou mesmo capacidade para fazer o que lhes é solicitado, ou para assumir responsabilidades para as quais ainda não está preparada (você já é um homenzinho!…).

Outras horas, o excesso de mimo, de proteção, de cuidados, de frases no diminutivo (coisinha fofinha da mamãe/do papai) pode sufocá-la, minimizar suas ansiedades, invadir seus espaços; enfim, pode servir para confundi-la, fazer com que se sinta menosprezada nas suas capacidades e reais necessidades. Pode ser um entrave para seu amadurecimento, sua auto-estima, seu desenvolvimento.

Muitas vezes tratamos nossos filhos como pequenos adultos, explicando coisas em demasia, exigindo responsabilidades e habilidades que ainda não são capazes de apresentar, subtraindo-lhes tempo livre para exercitar sua criatividade, vestindo ou sensualizando-os como se já estivessem prontos para namorar, etc.

Mas a resposta também é não. Não, pois as crianças têm uma vitalidade muito maior do que a dos adultos. Elas também têm uma capacidade maior de reação e, portanto, não absorvem para si mesmas toda a carga negativa dessas situações estressantes. As crianças estão constantemente apitando, com apitos naturalmente superficiais.

Como em uma panela de pressão, as válvulas que apitam em nosso organismo (as dores, as crises alérgicas e até as infecções de repetição) atuam, dando o alarme e colocando pressão para fora, a fim de preservar a integridade da panela/nosso organismo. Esse mecanismo lógico e coerente utiliza, preferencialmente, válvulas mais superficiais em primeiro lugar e, na medida em que estas não são suficientes ou vão sendo suprimidas, vão aparecendo outras mais profundas.

Assim sendo, o bebê tem na pele sua válvula mais freqüente, com inúmeras dermatites (de fralda, seborréica, de contato, atópica…), eczemas, estrófulo (por picadas de inseto), entre tantas que ficam sem um diagnóstico mais preciso, molusco contagioso, sarna (escabiose é mais chique) e outras manifestações virais de manifestação na pele, como sarampo, catapora, rubéola, etc.

Ao entrar na idade pré-escolar, a criança lança mão de válvula mais profunda que a pele, mas ainda muito superficiais, como a mucosa (a pele que nos reveste por dentro, afinal somos um tubo, por onde passam alimentos e ar, que absorvemos ou não, dependendo do que está sendo ingerido ou inalado).

Aí começam as rinites, os resfriados de repetição, as gripes, as amigdalites, otites e sinusites que nos acompanham pela infância. Isso sem contar as diarréias, vômitos e outras pequenas alterações intestinais gastrointestinais.

Somente após suprimirmos esses mecanismos de defesa tão confundidos com doença pela maioria das pessoas (médicos e leigos) é que aparecem os distúrbios funcionais de órgãos mais internos, mais nobres, cujo ápice é nosso sistema glandular e neurológico. Sem falar nos distúrbios de comportamento, pois nossa mente é o que temos de mais evoluído e hierárquico.

Assim, quanto mais sintomas aparecem na infância, mais sabemos que a criança está reagindo a algo que pode ser entendido como um stress físico/climático (como no esforço adaptativo para enfrentar as mudanças climáticas), biológico (contato inicial com maior número de vírus e bactérias estranhos ao sistema imunológico) ou comportamental — na escola, em casa ou em outras situações novas que atinjam sua suscetibilidade.

Mas, exatamente por essas manifestações ocorrerem, é que elas estão mais protegidas. Reagem, mas seu organismo como um todo não adoece. Seu nariz escorre, mas isso não pode ser interpretado como doença, e sim como reação.

Para criarmos crianças saudáveis devemos melhorar nossa comunicação, nossa escuta, nossa sensibilidade….devemos nos colocar em seu lugar as vezes e devemos agir com mais respeito por suas capacidades…ah, e darmos atenção e amor incondicionais!!