Um caso de síndrome do pânico

Ivani, 46 anos, casada, três filhos, gerente de banco. Há dois anos ela me procurou com sintomas de dor de peito, sufocação, tontura e sensação de morte iminente, os quais, provocaram uma angústia intensa e eram definidos pelo paciente como “apavorantes”.

Inicialmente esses sintomas apareciam no trabalho e com uma frequência bem espaçada. Um pouco antes da primeira consulta, as crises eram semanais, desencadeadas por mudanças súbitas de algum objeto, deslocamentos em veículos fechados ou barulhos inesperados.

Durante as crise, sentia que estava perdendo o controle. Começou a evitar sair de casa quando não fosse estritamente necessário e, de preferência, saía acompanhada. Evitava o metrô e qualquer aglomeração.

Quando questionei o porquê disso tudo, me falou que não queria dar vexame. Isso me deixou inicialmente intrigado.

Investigando sua vida pregressa, achei interessante que ela só havia tido um único namorado, com quem se casar, e um único emprego, em um banco estadual, no qual começara como caixa e, após várias promoções, ocupava atualmente o cargo de gerente de uma agência.

Não se considerava feliz, mas “muitos nem chegam tão longe”, foram suas palavras de explicação. Outra coisa que me chamou a atenção foi sua maneira organizada de se vestir, de se comportar e mesmo de falar: “Com sua licença, mas sou obrigada a discordar…”.

Julgava-se perfeccionista, mas era porque trabalhava com assuntos de alta responsabilidade, com dinheiro, contas, saldos que não podiam ficar negativos, aplicações que não podiam “dormir no ponto”. Ela também não conseguia dormir muito bem e precisava repassar em sua agenda seus compromissos sempre antes da oração que precedia seu sono. Na verdade, antes de checar sua agenda, verificava se as portas estavam trancadas, se as crianças cobertas e se o despertador do marido estava acertado para o horário de acordar.

Na época de escola, considerava-se tímida e, apesar de estudiosa e aplicada, jamais levantava a mão para responder a uma pergunta cuja resposta soubesse. Detestava ser chamada para ir a frente, mas, “caso se concentrasse bastante, não fazia feio”. 

Não praticava esportes e estava sempre com sua melhor amiga, até que esta se mudou. Sofreu muito com a separação. Não se lembra de ter ficado doente nunca. Nem resfriados. “E agora, doutor, estou inutilizada!”. Medos? “Não, só de ladrões, mas quem  é que não tem? E de ter de passar o resto da minha vida dependendo dos outros.”

Bem, para encurtar a história, o diagnóstico da Ivani foi síndrome  do pânico, e o  tratamento com um medicamento homeopático chamado Silicia CH 200 e sessões de psicoterapia conseguiram curar essas manifestações em um período de sete a oito meses.

Foi uma resposta brilhante desde o início do tratamento, apesar de suas dúvidas quanto a eficácia da homeopatia. Mas o grau de insegurança dessa mulher me impressionou. Sua vida inteira pode ser fruto de sua “doença primordial”. Não que, se ela tivesse percebido e lutado contra a sua insegurança, teria namorado mais na juventude ou trabalhado em diferentes bancos.

Não posso garantir isso, mas, sem nenhuma dúvida, sua insegurança contribuiu para que ela preferisse sempre as opções mais seguras e sólidas.

Ivani sempre foi avessa ao risco, à ousadia. Sempre trocou os pássaros voando por aquele que estava mais à mão. Muitas pessoas são assim. Com o tempo passei a enxergar dezenas, senão centenas de “Ivanis”, que, em menor ou em maior escala, acabavam por reduzirem suas próprias chances de serem mais felizes por receio de não conseguirem.